Arte na educação - Tropicália, Hélio Oiticica
- Nara Rotandano
- 27 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
A relação entre arte e meio ambiente é profunda e multifacetada, o que possibilita amplas formas de exploração para a educação ambiental de qualidade. Através da arte, pode-se abordar de maneira sensível e envolvente os desafios socioambientais que enfrentamos como sociedade, de forma local ou global, despertando e incentivando a conscientização e promovendo a reflexão sobre nosso papel no mundo. Diversos artistas, tanto históricos quanto contemporâneos, dedicaram suas obras à representação da natureza, crítica dos danos ambientais e/ou questões sociais.
Nessa série de textos vou trazer alguns desses artistas e obras, juntamente com as percepções e interpretações de especialistas e amantes da arte, com o objetivo de apresentar, ou relembrar, opções que podem ser aproveitadas para aumentar o conhecimento artístico e cultural dos estudantes e também fomentar discussões socioambientais em sala de aula. A primeira obra a fazer parte dessa coletânea é Tropicália, produzida pelo carioca Hélio Oiticica.
Oiticica é um dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira, aborda em suas obras a relação entre o homem e a natureza, no que ele chamava de arte ambiental. Suas obras se iniciaram no papel, e aos poucos foi ganhando dimensões até se transformar em experiências imersivas, dentre as quais Tropicália se destaca, considerada a sua obra de maior alcance público, sendo a origem do nome dado ao movimento cultural que influenciou a arte no Brasil, sobretudo na música. Tratava-se de
"um labirinto construído com uma arquitetura improvisada, semelhante às favelas, um cenário tropical com plantas características e araras. O público caminhava descalço, pisando em areia, brita, água, experimentando sensações, no fim do percurso se defronta com um aparelho de TV ligado, um símbolo moderno. A nova imagem do Brasil, os meios de comunicação de massa contrastando com a miséria nacional. Polarizações e impasses da sociedade, da cultura, da estética e da política da arte nos anos de 1960" (retirado de Tropicália de Hélio Oiticica - Jornal GGN. Acesso em: 27/05/24).
Tropicália foi criada durante a ditadura militar no Brasil, um período marcado por repressão e censura, por isso é possível concluir que "Tropicália" busca atrair os espectadores da arte por meio da experiência sensorial, para discretamente conduzi-los a uma reflexão profunda sobre a riqueza natural do Brasil e os problemas sociais e ambientais. Ao contrastar a beleza da natureza com a miséria social, a obra de Oiticica não só enfatiza a necessidade de preservar o meio ambiente, mas também chama a atenção para as desigualdades sociais.
Um aspecto fascinante de Tropicália é sua versatilidade, que permite diferentes formas de exploração em contextos educacionais. Além de poder ser analisada através de fotografias e vídeos, esta obra pode ser recriada em eventos escolares, onde os alunos têm a oportunidade de interagir com a instalação. Esse processo de recriação permite que os espectadores se tornem participantes ativos, seguindo a ideia original de Oiticica de que a arte deve ser uma experiência imersiva e interativa.
Portanto, Tropicália é uma obra que exemplifica perfeitamente como a arte pode ser utilizada para estimular reflexões profundas sobre a interação entre natureza e sociedade, especialmente em contextos educacionais. Seu caráter imersivo e a crítica aos problemas ambientais e sociais a tornam um veículo poderoso para a educação ambiental, conectando estética, cultura e responsabilidade ecológica em um processo de aprendizagem significativo e transformador.
A integração da arte com a educação ambiental crítica oferece uma abordagem rica e multidisciplinar que não só amplia o repertório artístico dos alunos, mas também promove uma consciência crítica e responsável em relação ao meio ambiente. Ao explorar e discutir obras de artistas que abordam questões ambientais, os alunos são incentivados a refletir sobre aspectos levantados por outras pessoas com métodos de expressão variados, possibilitando maiores possibilidades de trabalhar a interpretação dos estudantes.
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