Desafios ambientais da produção de energia hidrelétrica
- Nara Rotandano
- 30 de mai. de 2024
- 4 min de leitura
Esse é o terceiro texto da série Desafios Ambientais da Produção de Energia, se você ainda não leu os anteriores acesse: Fontes de energia (eanapratica.com).

Hoje vamos direcionar o olhar aprofundado para a energia hidrelétrica. Este tipo de energia é uma das fontes renováveis mais utilizadas no mundo, sendo responsável por uma parcela significativa da produção de eletricidade em diversos países, como no Brasil, onde de acordo com o Balanço Energético Nacional de 2023¹, representam aproximadamente 62% da matriz energética. No entanto, apesar de ser considerada uma energia limpa e benéfica ao reduzir a dependência de combustíveis fósseis, também apresenta uma série de desafios ambientais significativos que devem ser discutidos e analisados, é isso que vamos explorar nesse texto.
A construção de usinas hidrelétricas tradicionais necessitam da criação de grandes reservatórios, consequentemente provocando inundações de vastas áreas, deslocamento de comunidades locais e a destruição de ecossistemas. Esses reservatórios também contribuem para a emissão de gases de efeito estufa, como metano, devido à decomposição da matéria orgânica que é submersa. Além disso, a alteração do fluxo natural dos rios pode afetar a biodiversidade aquática, prejudicando espécies que dependem de certos padrões de fluxo de água para sua reprodução e sobrevivência, e a fragmentação dos habitats também pode comprometer os hábitos naturais das espécies aquáticas e terrestres da região.
Um exemplo real desses impactos já se transformou em música, que já foi analisada aqui no blog (confira Músicas na educação - Sobradinho, Sá e Guarabyra), mas esses problemas são recorrentes para todas as hidrelétricas tradicionais. Assim como o impacto dos organismos aquáticos, como descrito na reportagem: "Hidrelétricas matam toneladas de peixes e ameaçam espécies nos rios brasileiros, aponta estudo" produzida pela BBC News Brasil, que destaca o impacto dessas instalações na vida dos peixes por meio de estudos científicos que demonstram que os mecanismos que transportam os peixes da barragem para o rio abaixo na verdade é responsável pela mortalidade dos indivíduos².
Diante de tantos prejuízos, uma alternativa de hidrelétrica é defendida pelo seu menor impacto ambiental. São as usinas a fio d'água, que utilizam o fluxo contínuo do rio para gerar eletricidade, sem a necessidade de grandes reservatórios. Em vez de criar grandes represas, elas possuem barragens menores que criam pequenos desníveis no rio para direcionar a água pelas turbinas. Portanto, pela ausência de grandes áreas de inundação se minimiza o deslocamento de comunidades e as alterações nos ecossistemas. Contudo, apesar desses benefícios e da redução dos custos de implantação, esse tipo de usina possui uma produção de energia mais variável e menos previsível, já que é dependente das variações sazonais do fluxo do rio, pois sem reservatórios não é possível armazenar o excedente do período chuvoso para a seca ou alta demanda.
Dessa forma, por mais que os impactos das hidrelétricas a fio d'água sejam menores, o retorno energético é significativamente menor do que o das usinas tradicionais. Portanto, seu uso torna necessário instalar um maior número de usinas para garantir o atendimento das demandas energéticas do país³. Responder ao dilema de qual a alternativa é mais viável é o ponto chave das discussões sobre produção de energia hidrelétrica no Brasil e no mundo, e a ausência de uma resposta clara demonstra como a produção de energia se trata de uma questão complexa e multifacetada, em que a busca por soluções sustentáveis precisa considerar tanto a eficiência energética quanto os impactos ecológicos e sociais.
Por fim, fica evidente que a energia hidrelétrica de forma geral apresenta uma série de vantagens e desvantagens que devem ser cuidadosamente ponderadas, reforçando que na realidade não existe uma fonte de energia perfeita. Cada opção tem seus prós e contras, e a escolha de qual utilizar deve ser feita com uma compreensão profunda dos impactos e benefícios de cada uma. É crucial que políticas energéticas considerem não apenas a capacidade de geração de energia, mas também os efeitos a longo prazo sobre o meio ambiente e as comunidades humanas.
Portanto, é possível concluir que a busca por uma matriz energética sustentável e eficiente deve incluir uma combinação de diversas fontes de energia, adaptadas às características e necessidades específicas de cada região. E como forma de garantir que as instalações a serem implantadas em determinado lugar ofereçam benefícios maiores que os prejuízos é contar com a participação civil de cidadãos capazes de compreender e discutir os aspectos das diferentes fontes de energia. Por isso, é fundamental levar esse tema para a sala de aula, destacando as peculiaridades de cada tipo de energia e incentivando os estudantes a refletir e considerar diferentes opiniões no debate a respeito delas. Dessa maneira, estaremos preparando as novas gerações para tomar decisões informadas e responsáveis, contribuindo para a construção de um futuro mais equilibrado em suas questões sociais e ambientais.
Balanço Energético Nacional - 2023. Empresa de Pesquisa Energética e Ministério de Minas e Energia. Disponível em: BEN2023.pdf. Acesso em: 30/05/24.
BBC News Brasil. Hidrelétricas matam toneladas de peixes e ameaçam espécies nos rios brasileiros, aponta estudo. Acesso em: 30/05/24.
G1. Governo estuda como destravar construção de novas hidrelétricas com reservatório, diz secretário. Acesso em: 30/05/24.
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