Desafios ambientais da produção de energia termelétrica
- Nara Rotandano
- 2 de jun. de 2024
- 3 min de leitura

A energia termelétrica representa uma parcela significativa da matriz energética brasileira, complementando as demais fontes de energia, principalmente nos períodos de baixa produção e alta demanda. Ela é gerada a partir da queima de combustíveis fósseis, como carvão, óleo e gás natural, ou de recursos renováveis, como biomassa de variados tipos. No entanto, sua utilização apresenta uma série de desafios ambientais e sociais que merecem atenção, e é sobre eles que vamos tratar no texto de hoje.
A queima necessária para a obtenção de energia de fontes termelétricas, seja de combustíveis fósseis (como carvão, petróleo e gás natural) ou de biomassa (como madeira, resíduos agrícolas e biocombustíveis), libera grandes quantidades de gases de efeito estufa (GEE), incluindo dióxido e o monóxido de carbono (CO₂ e CO), além de outros poluentes como óxidos de nitrogênio (NOx), dióxidos de enxofre (SO₂) e partículas finas (PM2.5), que podem causar problemas respiratórios e cardiovasculares na população local. No entanto, a quantidade e proporção desses gases podem variar dependendo do tipo específico de combustível e das condições de combustão.
A queima de combustíveis fósseis geralmente resulta em maiores emissões de CO₂ e SO₂ em comparação com a biomassa. O carvão, por exemplo, é particularmente rico em enxofre, levando a emissões significativas de dióxido de enxofre. Já com biomassa a tendência é liberar mais partículas finas (PM2.5) e compostos orgânicos voláteis (COVs) do que combustíveis fósseis. No entanto, a biomassa pode ser considerada neutra em carbono se for proveniente de fontes sustentáveis, pois o CO₂ liberado durante a combustão é compensado pelo CO₂ que absorvido pelas plantas durante seu crescimento.
O gás natural é considerado o combustível com menor emissão de gases de efeito estufa e outros poluentes, no entanto, ele se trata de uma fonte não renovável cuja obtenção oferece inúmeros outros impactos ambientais. Por outro lado, a biomassa oferecem uma oportunidade significativa para o uso de resíduos industriais. Por exemplo, o bagaço de cana, subproduto da indústria sucroalcooleira, é uma alternativa eficiente para produção termelétrica, com ampla utilização no Brasil, portanto, a geração de energia é uma forma eficiente de reaproveitar esses resíduos (mas não a única, já que esses resíduos também são utilizados na produção de ração e fertilizantes).
Além da poluição do ar, as termelétricas também impactam o meio ambiente de outras formas. A necessidade de grandes quantidades de água para o resfriamento das turbinas pode limitar a disponibilidade hídrica nas proximidades, afetando ecossistemas aquáticos devido à alteração da temperatura e à possível contaminação da água com substâncias residuais. As usinas também necessitam de grandes áreas, podendo levar à desmatamento e destruição de ecossistemas naturais, e quando em operação podem ser fontes de ruído e poluição visual e atmosférica, impactando a qualidade de vida das comunidades locais.
Para mitigar esses impactos, é crucial investir em tecnologias mais limpas e eficientes. A captura e armazenamento de carbono é uma tecnologia promissora que pode reduzir significativamente as emissões de CO₂ das usinas termelétricas. Além disso, a transição para o uso de biomassa e biocombustíveis, que têm um ciclo de carbono neutro, pode ajudar a diminuir a dependência de combustíveis fósseis. No entanto, além das tecnologias, é fundamental garantir uma rigorosa fiscalização e manutenção das usinas termelétricas para assegurar que estejam operando de maneira eficiente e dentro dos padrões ambientais estabelecidos. A aplicação de melhores práticas de gestão e a atualização contínua dos equipamentos são essenciais para minimizar os impactos negativos dessas plantas.
Por fim conclui-se que a energia termelétrica desempenha um papel vital na matriz energética brasileira, especialmente como fonte de segurança energética. No entanto, os desafios ambientais associados à sua produção não podem ser ignorados. Embora seja uma alternativa viável para suprir necessidades pontuais, o custo financeiro e ambiental dessa fonte de energia é significativo e precisa ser avaliado com cautela. A busca por alternativas mais sustentáveis e o investimento em tecnologias limpas são essenciais para minimizar os impactos ambientais e garantir um futuro energético mais equilibrado. Portanto, é essencial que o tema seja amplamente discutido com novas gerações a fim de alcançar uma sociedade mais consciente e capaz de contribuir com o desenvolvimento saudável da sociedade.
Essas e outras informações sobre energia termelétrica no Brasil estão disponíveis em: Análise socioambiental das fontes energéticas do PDE 2030, pág. 28 a 40. Acesso em 02/06/24.
Comments